Paulo de Oliveira Filho
Na vida das nações há pelo menos três símbolos que devem estar no coração e na mente de cada cidadão de qualquer país. Um deles é a bandeira nacional; outro é a moeda e o terceiro é a língua pátria. A bandeira nacional tem sido empunhada com orgulho pelos nossos esportistas, gesto consagrado por Ayrton Senna. Cada vez que um atleta nosso, seja ele Joaquim Cruz, Guga, Rubinho, exibe a bandeira após uma conquista, esse gesto atinge mais de um bilhão de pessoas na televisão, pois atletismo, tênis e corridas de automóveis, a exemplo do futebol, atraem milhões de espectadores.
Entretanto, com nossa moeda isso não acontece, pois ela é constantemente aviltada. A moeda é fator de orgulho para qualquer povo. Veja-se o que acontece com o dólar, o franco, a libra. Nossa moeda, além de mudar de nome com freqüência: cruzeiro, cruzado, real, perde o seu valor a cada dia. Isso não eleva o moral de povo algum, e nossos governantes devem estar atentos para isso. Não se consegue enganar sempre a população, dizendo que a inflação está contida e a moeda está estável. Os fatos demonstram a falácia dessas alegações oficiais. É só comparar-se os preços da gasolina, dos medicamentos, impostos, pedágio para desmistificar essas falsas notícias.
Com a língua portuguesa não é diferente. Se não nos empenharmos para defendê-la contra os estrangeirismos da moda, em pouco nós não teremos como nos comunicar uns com os outros, pois cada um de nós estará falando uma língua diferente. Dou um triste exemplo: embora seja um fã incondicional do Rio de Janeiro e o meu maior desejo é que o Rio viva, nossos irmãos cariocas, que já tiveram uma língua considerada padrão no Brasil, hoje falam mais ou menos o seguinte: tomém, em vez de também; tumatchi, em vez de tomate; é memo, por é mesmo; está assoprano, por assoprando. Isso significa que por razões históricas e pela “lei do menor esforço”, o carioca está falando uma língua estropiada. Será que isso é bom para o Brasil? Não é a língua portuguesa um fator da unidade territorial do país? A língua que predomina em nossas fronteiras, seja ela no sul, oeste ou norte é a portuguesa. Exemplo: Foz do Iguaçu, onde os paraguaios e argentinos, por razões culturais e econômicas, falam o português.
Essa diferença de linguagem verifica-se, também, nas novelas, principalmente quando ela é ambientada no Rio de Janeiro. Os brasileiros perceberiam melhor essas falas alomórficas se assistissem a uma novela que se desenrolasse no Maranhão, onde se tem tradição de se falar bem o português, o que nos faz recordar dos grandes escritores maranhenses.
Eis que agora temos a grata satisfação e alegria de ver uma proposta de um deputado alagoano, da terra de Graciliano Ramos, ser aprovada na Comissão de Educação da Câmara Federal, proibindo os estrangeirismos sem causa em nossa língua. Trata-se do projeto de Aldo Rebelo (PC do B – SP) que visa a evitar ataques à língua falada por mais de 200 milhões de pessoas, numa área que atinge os cinco continentes e vai do Brasil a Timor-Leste, abrangendo a Europa, a África, a Ásia e outras regiões da Terra.
A língua que tem Camões, Vieira, Pessoa, Ruy, Machado de Assis, Drummond, Graciliano, Bilac, João Guimarães Rosa, entre tantos outros, deve ser preservada como língua materna, como fator de cultura e de unidade nacional.
Se não cultivarmos a “última flor do Lácio”, estaremos aceitando não só as imposições do FMI, como estaremos atrelados a uma cultura que não é e nunca foi a nossa – a cultura do consumo, onde o homem simples não tem lugar para viver e alegrar-se com a cultura que recebeu daqueles que formaram a nação brasileira. É preciso que haja um Tiradentes, ou um Aldo Rebelo, para libertar nossa língua.
Esses são os argumentos do Secretário da ALDH que parabeniza o nobre deputado por seu êxito na Câmara Federal. Que o Projeto tenha um final feliz. É o que se espera para o bem da Pátria.
Dr. Paulo de Oliveira, advogado,
é secretário da ALDH-Associação Lusófona de Direitos Humanos